segunda-feira, 5 de junho de 2017

O meu Parto aos olhos da Parteira.

Pedi à querida Isabel, de quem já vos falei, que me contasse como viu o meu Parto. Tal como a sua presença naquele dia, o seu relato empodera-me e emociona-me. Obrigada Isabel, por partilhares comigo a tua visão do meu Parto, momento único de metamorfose:

"De manhã acordei cheia de energia... depois da azáfama do início do dia, em volta dos pequeninos (brincadeiras de inicio do dia, higiene, preparar lanches, levar ao infantário...), chego ao centro de saúde para mais uma manhã dedicada a uma missão que se repete no meu dia-a-dia: fazer com que mulheres grávidas conheçam, descubram e/ou potenciem o seu poder feminino e assim se sintam mais confiantes e preparados para o dia do parto/nascimento e o inesquecível encontro com o seu bebé.

Pouco tempo depois de chegar recebo um telefonema.  A Anne estava a sentir as primeiras contrações e tudo indicava que o trabalho de parto poderia ter iniciado. A Anne é uma mulher muito centrada na sua feminilidade. A sua gravidez tinha sido cheia de energia positiva, amor, saúde e havia muita cumplicidade entre a Anne e a Jasmim. Com o plano de um parto fisiológico, no Hospital Privado da Boanova, tinha-me escolhido como enfermeira parteira para a acompanhar nesta viagem transformadora, desde a gravidez até aos primeiros dias de vida da Jasmim. Referiu ao telefone que tinha contrações de intensidade reduzida e irregular, mas frequentes, aproximadamente de 10 em 10 minutos. A Jasmim dava provas da sua vivacidade e energia movendo-se, comunicando. Perguntei à Anne se se importava que a Joana (enfermeira parteira) fosse até lá, para perceber se deveria desmarcar as sessões e consultas agendadas para essa manhã, ou se efectivamente ainda estaria no início. 
Confiante, Anne disse que não se importava, que teria gosto de a receber, mas que lhe parecia ainda ser uma fase inicial. A Joana foi por volta das 11h e relatou: contrações de intensidade reduzida e irregular, mas frequentes, apresentação fetal apoiada, frequência cardíaca do bebé dentro dos parâmetros normais e com acelerações (bons movimentos do bebé), membranas íntegras e colo uterino posterior, mole, em início de extinsão e com 2 cm de dilatação... em poucas palavras, tudo indicava que se tratava de uma fase incial de trabalho de parto, mas ainda não estaria em fase ativa. Apesar disso lembro-me de partilhar um instinto com a Joana: não sei por quê mas acho que quando começar vai ser rápido... 
Estava a almoçar com a Joana, uma fantástica salada tropical e um sumo natural refrescante, e novamente o meu telemóvel toca: era o Jorge e de barulho de fundo eram perceptíveis sons que me são muito familiares, de mulher poderosa em trabalho de parto e verdadeira sintonia com o seu corpo e o seu bebé. Ele disse, agora parece estar diferente e talvez seja melhor vires até cá. Referi-lhe qual era o meu instinto e que me parecia prudente que fossemos para o Hospital de Boanova, em vez de nos encontrarmos primeiro em casa. Ele ausentou-se para perguntar à Anne e retomou pedindo-me que fosse primeiro até lá. Já não tomei café. Paguei a conta e saí.
Quando cheguei confirmei o que suspeitava... evoluía muito rapidamente. A Anne estava na banheira da casa de banho, apoiada no Jorge e a casa enchia-se de sons que não traziam dúvidas... a mãe da Anne estava em casa e disse-lhe que seria importante ir buscar o carro para colocar as malas, pois estava na hora de ir para o hospital. Quando entrei na casa de banho, os sons começaram a transformar-se em grunhidos, de força... a Jasmim empurrava-se para a vida... a Anne sentia já os primeiros esforços expulsivos... não havia tempo para uma viagem com segurança até ao hospital, a Jasmim ia nascer em casa! 
Telefonei rapidamente à enfermeira parteira Sónia e pedi que trouxesse o material de emergência pois este bebé, apesar de não programado, iria nascer em casa. Lembro-me da Sónia me dizer: “Eu tenho de ir a casa buscar a mala... não preferes que vá direta para aí?” - “Não!” – respondi – “Acho mesmo que não será necessário (e não foi ), mas preferia que fosses buscar a mala, pelo sim, pelo não...” Expliquei à mãe da Anne que o bebé estava com pressa, que não daria tempo para irmos para o hospital, mas tudo indicava que iria correr muito bem. Fomos para o quarto e a Anne colocou-se numa posição vertical sobre a cama, de joelhos, apoiada no Jorge, perfeitamente conectada com o seu corpo e com a Jasmim. 
No intervalo de cada contração sorria, dormia... durante a contração deixava o seu corpo comandar, em perfeita sintonia com ele... “Respira, respira... sopra, sopra!!” – disse a mãe (acho que estava também a falar para ela mesma  ) – “Não se preocupe, ela está a fazer tudo muito bem!” – disse eu – “Ohh.... pois... parece que sim.... sabe, é o que se vê nos filmes!!... e este é o meu primeiro parto!”. A Anne tinha nascido por cesariana... aquelas palavras sentidas comoveram-me muito... A bebé começou a coroar. O seu coração batia forte, 135/145 batimentos por minuto, sempre muito bem. A Jasmim mexia antes de cada contração, mostrando que tinha força e que ela mesma se empurrava para a vida. A Anne colocou a mão na vagina e sentiu a cabeça da Jasmim pela primeira vez... muita emoção! 
Mais umas contrações e... NASCEU!!! Que momento maravilhoso, que vitalidade! O pai emocionado pega na câmara e começa a fotografar sem parar, como se quisesse congelar ali aquele momento, captando toda a essência... mas é algo que se capta com o coração, com os cheiros, os sons... apesar das fotos sem dúvida ajudarem a nossa mente a viajar no tempo e a lembrar essa essência.... a avó recém-nascida abraça a filha orgulhosa... “Deixa isso pai, anda para aqui!” – diz a Anne segurando a Jasmim nos braços, linda, como uma deusa, corada e de olho a brilhar, apaixonada e poderosa. A câmara passou para a parteira e deitaram-se os três, a olharem-se, tocarem-se, beijarem-se... parabéns a você!!... 
Parabéns à Jasmim, cheia de vitalidade, parabéns à avó, orgulhosa e emocionada, parabéns ao pai, protector e deslumbrado, e parabéns à mãe, poderosa, forte e verdadeiramente feminina!... Muito obrigada pela honra de poder estar do vosso lado neste momento tão especial. "

Isabel



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