Pedi à querida Isabel, de quem já vos falei, que me contasse como viu o meu Parto. Tal como a sua presença naquele dia, o seu relato empodera-me e emociona-me. Obrigada Isabel, por partilhares comigo a tua visão do meu Parto, momento único de metamorfose:
Pouco tempo depois de chegar recebo um telefonema. A Anne estava a sentir as primeiras contrações e tudo indicava que o trabalho de parto poderia ter iniciado. A Anne é uma mulher muito centrada na sua feminilidade. A sua gravidez tinha sido cheia de energia positiva, amor, saúde e havia muita cumplicidade entre a Anne e a Jasmim. Com o plano de um parto fisiológico, no Hospital Privado da Boanova, tinha-me escolhido como enfermeira parteira para a acompanhar nesta viagem transformadora, desde a gravidez até aos primeiros dias de vida da Jasmim. Referiu ao telefone que tinha contrações de intensidade reduzida e irregular, mas frequentes, aproximadamente de 10 em 10 minutos. A Jasmim dava provas da sua vivacidade e energia movendo-se, comunicando. Perguntei à Anne se se importava que a Joana (enfermeira parteira) fosse até lá, para perceber se deveria desmarcar as sessões e consultas agendadas para essa manhã, ou se efectivamente ainda estaria no início.
Confiante, Anne disse que não se importava, que teria gosto de a receber, mas que lhe parecia ainda ser uma fase inicial. A Joana foi por volta das 11h e relatou: contrações de intensidade reduzida e irregular, mas frequentes, apresentação fetal apoiada, frequência cardíaca do bebé dentro dos parâmetros normais e com acelerações (bons movimentos do bebé), membranas íntegras e colo uterino posterior, mole, em início de extinsão e com 2 cm de dilatação... em poucas palavras, tudo indicava que se tratava de uma fase incial de trabalho de parto, mas ainda não estaria em fase ativa. Apesar disso lembro-me de partilhar um instinto com a Joana: não sei por quê mas acho que quando começar vai ser rápido...
Estava a almoçar com a Joana, uma fantástica salada tropical e um sumo natural refrescante, e novamente o meu telemóvel toca: era o Jorge e de barulho de fundo eram perceptíveis sons que me são muito familiares, de mulher poderosa em trabalho de parto e verdadeira sintonia com o seu corpo e o seu bebé. Ele disse, agora parece estar diferente e talvez seja melhor vires até cá. Referi-lhe qual era o meu instinto e que me parecia prudente que fossemos para o Hospital de Boanova, em vez de nos encontrarmos primeiro em casa. Ele ausentou-se para perguntar à Anne e retomou pedindo-me que fosse primeiro até lá. Já não tomei café. Paguei a conta e saí.
Quando cheguei confirmei o que suspeitava... evoluía muito rapidamente. A Anne estava na banheira da casa de banho, apoiada no Jorge e a casa enchia-se de sons que não traziam dúvidas... a mãe da Anne estava em casa e disse-lhe que seria importante ir buscar o carro para colocar as malas, pois estava na hora de ir para o hospital. Quando entrei na casa de banho, os sons começaram a transformar-se em grunhidos, de força... a Jasmim empurrava-se para a vida... a Anne sentia já os primeiros esforços expulsivos... não havia tempo para uma viagem com segurança até ao hospital, a Jasmim ia nascer em casa!
Telefonei rapidamente à enfermeira parteira Sónia e pedi que trouxesse o material de emergência pois este bebé, apesar de não programado, iria nascer em casa. Lembro-me da Sónia me dizer: “Eu tenho de ir a casa buscar a mala... não preferes que vá direta para aí?” - “Não!” – respondi – “Acho mesmo que não será necessário (e não foi ), mas preferia que fosses buscar a mala, pelo sim, pelo não...” Expliquei à mãe da Anne que o bebé estava com pressa, que não daria tempo para irmos para o hospital, mas tudo indicava que iria correr muito bem. Fomos para o quarto e a Anne colocou-se numa posição vertical sobre a cama, de joelhos, apoiada no Jorge, perfeitamente conectada com o seu corpo e com a Jasmim.
No intervalo de cada contração sorria, dormia... durante a contração deixava o seu corpo comandar, em perfeita sintonia com ele... “Respira, respira... sopra, sopra!!” – disse a mãe (acho que estava também a falar para ela mesma ) – “Não se preocupe, ela está a fazer tudo muito bem!” – disse eu – “Ohh.... pois... parece que sim.... sabe, é o que se vê nos filmes!!... e este é o meu primeiro parto!”. A Anne tinha nascido por cesariana... aquelas palavras sentidas comoveram-me muito... A bebé começou a coroar. O seu coração batia forte, 135/145 batimentos por minuto, sempre muito bem. A Jasmim mexia antes de cada contração, mostrando que tinha força e que ela mesma se empurrava para a vida. A Anne colocou a mão na vagina e sentiu a cabeça da Jasmim pela primeira vez... muita emoção!
Mais umas contrações e... NASCEU!!! Que momento maravilhoso, que vitalidade! O pai emocionado pega na câmara e começa a fotografar sem parar, como se quisesse congelar ali aquele momento, captando toda a essência... mas é algo que se capta com o coração, com os cheiros, os sons... apesar das fotos sem dúvida ajudarem a nossa mente a viajar no tempo e a lembrar essa essência.... a avó recém-nascida abraça a filha orgulhosa... “Deixa isso pai, anda para aqui!” – diz a Anne segurando a Jasmim nos braços, linda, como uma deusa, corada e de olho a brilhar, apaixonada e poderosa. A câmara passou para a parteira e deitaram-se os três, a olharem-se, tocarem-se, beijarem-se... parabéns a você!!...
Parabéns à Jasmim, cheia de vitalidade, parabéns à avó, orgulhosa e emocionada, parabéns ao pai, protector e deslumbrado, e parabéns à mãe, poderosa, forte e verdadeiramente feminina!... Muito obrigada pela honra de poder estar do vosso lado neste momento tão especial. "
Isabel
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