segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Três

Três é um número mágico.

Para nós, pelo menos, é...

...e como não há duas sem três, resolvemos aproveitar a viagem de regresso para espremer as horas de férias ao máximo e ir conhecer a árvore mais antiga de portugal, que há registo.

Está em Abrantes, mais especificamente em Carrascos, que pertence a Mouriscas. A melhor maneira de a encontrar é perguntar ao sr. do café, que indica com prazer e orgulho, onde se encontra este tesouro vivo da história.

Tem aproximadamente 3360 anos. Antes encostada à parede de uma casa, respira agora livremente, cercada de um pequeno muro circular. Sendo uma árvore oca, também é possível refugiar-se no seu interior, tocar a sua alma e a sua raíz, imaginar-lhe memórias de homens e mulheres de todos os tempos, vindos de todos os lugares.

Certamente se lhe encostaram cavalos com guerreiros cansados, amantes livres e amores secretos, anciãos celtas, mouros fatigados, romanos sedentos de lhe chamar sua.

Resistiu-lhes a todos, numa força que só pertence à Natureza. Observou a todos, serena. A ventos fortes, sol que queima, neve, provavelmente. Acessos de raiva, choros de lutos precoces, sorrisos de crianças felizes por descobrirem a vida.

Continua lá, para além das guerras e das pazes, coleccionando histórias nas suas folhas.

Sentei-me lá, com a Jasmim e de lá saí, mais certa ainda, que como ela, nada morre.











sábado, 16 de setembro de 2017

quatro elementos

Depois da visita à Oliveira milenar, fomos espreitar as estrelas. Aqui, no Algarve, o céu não é o mesmo. Com menos poluição visual, um sítio sem luz dá-nos um deslumbre da escala do Universo. Perante a proximidade das luzes da galáxia, é impossível, como Ele me disse, "acharmos que estamos sozinhos".

A Oliveira conectou-nos à Terra, às raízes. As estrelas ao ar, ao movimento, à ideia de que tudo se transforma. O Fogo, esse, é adjectivo do nosso amor. Não é um fogo que destrói. É o fogo que, lentamente, cozinha cada momento que vivemos juntos. 

É o fogo que com a sua energia, no dia seguinte, na estrada para Espanha mas sem destino escolhido, nos leva a Mazagón. Poderíamos ter parado em qualquer praia, não conseguimos conectar-nos à rede para ligar o gps, escolhemos esta por intuição. 

Ao lado do parque de estacionamento, uma árvore protegida, vedada, um Pinho fulgurante, com os primeiros contornos desenhados há mais de 400 anos! Em apenas dois dias, uma árvore milenar e uma árvore secular! Que final de férias e a lição de que, não são as coisas que não estão lá, és tu que às vezes, não te deténs para as ver. 

Terminamos com a Jasmim a correr atrás das gaivotas, numa praia que se estende ao lado de uma arriba ocre amarela e a molhar os pés no leito do oceano, com a água que cura e salga a vontade de viver. 













sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Olea europaea

Ontem, fizemos daquela Oliveira o nosso altar. O momento alto dos últimos dias. Sentir aquela Oliveira, pedir-lhe permissão para aceder ao seu útero, com a minha filha nos braços que pediu imediatamente que a amamentasse, como quem percepciona a magia sem precisar das palavras para o mostrar.

Ontem renasci. Renascemos. Depois de, literalmente, lhe sentir o pulsar, fechei os olhos por instantes, conectei-me com as suas vivências, que incluem as que estão gravadas na minha memória e pedi-lhe para, a partir dela, renascer.

Saí lentamente. Senti cada movimento. Primeiro uma perna, depois a outra... um último desejo de reprogramar, focando o coração no essencial e por fim, já de olhos abertos, o último fio de cabelo.

Esta oliveira situa-se em Tavira, mais concretamente em Pedras d'El Rei. Nasceu lá há mais de 2000 anos. Assistiu à ocupação do território pelos romanos, pelos mouros e hoje, por turistas.

Passa despercebida a quem não tiver ouvido falar dela. Tem apenas uma pequena placa explicativa, junto dela e nenhuma indicação da sua existência, nos arredores.

Mas a quem a tocar, a quem a sentir, a quem a abraçar, (re)significa. Depois de, qual Pocahontas, conversar com ela e absorver os seus mais sábios conselhos de anciã, é impossível esquecê-la. Dá vontade de ficar ali, na sua sombra, a colher azeitonas, como a Jasmim e a respirar o oxigénio embuído de vida milenar.