sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Olea europaea

Ontem, fizemos daquela Oliveira o nosso altar. O momento alto dos últimos dias. Sentir aquela Oliveira, pedir-lhe permissão para aceder ao seu útero, com a minha filha nos braços que pediu imediatamente que a amamentasse, como quem percepciona a magia sem precisar das palavras para o mostrar.

Ontem renasci. Renascemos. Depois de, literalmente, lhe sentir o pulsar, fechei os olhos por instantes, conectei-me com as suas vivências, que incluem as que estão gravadas na minha memória e pedi-lhe para, a partir dela, renascer.

Saí lentamente. Senti cada movimento. Primeiro uma perna, depois a outra... um último desejo de reprogramar, focando o coração no essencial e por fim, já de olhos abertos, o último fio de cabelo.

Esta oliveira situa-se em Tavira, mais concretamente em Pedras d'El Rei. Nasceu lá há mais de 2000 anos. Assistiu à ocupação do território pelos romanos, pelos mouros e hoje, por turistas.

Passa despercebida a quem não tiver ouvido falar dela. Tem apenas uma pequena placa explicativa, junto dela e nenhuma indicação da sua existência, nos arredores.

Mas a quem a tocar, a quem a sentir, a quem a abraçar, (re)significa. Depois de, qual Pocahontas, conversar com ela e absorver os seus mais sábios conselhos de anciã, é impossível esquecê-la. Dá vontade de ficar ali, na sua sombra, a colher azeitonas, como a Jasmim e a respirar o oxigénio embuído de vida milenar.













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